20 outubro 2017

RESENHA: A Mulher do Viajante no Tempo - Audrey Niffenegger

Autor(a): Audrey Niffenegger
Ano: 2009
Páginas: 456
Editora: Suma das Letras
SINOPSE: "A Mulher do Viajante no Tempo" conta a história do casal Henry e Clare. Quando os dois se conhecem Henry tem 28 anos e Clare, 20. Ele é um moderno bibliotecário; ela, uma linda estudante de arte. Os dois se apaixonam, se casam e passam a perseguir os objetivos comuns à maioria dos casais: filhos, bons amigos, um trabalho gratificante. Mas o seu casamento nunca poderá ser normal. Henry sofre de um distúrbio genético raro. De tempos em tempos, seu relógio biológico dá uma guinada para frente ou para trás, e ele se vê viajando no tempo. Causados por acontecimentos estressantes, os deslocamentos são imprevisíveis e Henry é incapaz de controlá-los. E Clare, para quem o tempo passa normalmente, tem de aprender a conviver com a ausência de Henry e com o caráter inusitado de sua relação.

Em 26 de outubro de 1991, Henry tem 28 anos e Clare, 20. Nesse dia, Henry conhece a mulher responsável por mudar a sua vida. Ela, no entanto, já o conhecia há muito tempo – há quatorze anos, especificamente – e sabia que estava destinada a ser sua esposa. 

Clare tinha seis anos quando viu Henry pela primeira vez. Ela estava brincando, sozinha, na enorme propriedade da família, no Michigan, quando notou a presença de um estranho. Lá estava Henry, com uns trinta e tantos anos, nu, escondido atrás de um arbusto e se dizendo um viajante no tempo. Esta foi, também, a primeira vez que Clare o viu desaparecer. Ao longo dos anos seguintes, os dois ainda se viram muitas vezes. Através desses encontros (que podiam variar de uma tarde a um período de três dias), Henry foi espectador ativo do desenvolvimento de Clare, acompanhando todas as suas fases, desde a infância, onde a auxiliava nos deveres de casa e jogos de xadrez, à adolescência, enquanto esquivava-se das investidas de uma Clare já crescida e apaixonada. 

Henry tem, de fato, o dom (ou seria maldição?) de viajar no tempo. Atribuída a uma anomalia genética, essas viagens ocorrem de repente, sem Henry esperar ou planejar – basta apenas um momento de estresse ou euforia. 

HENRY: Como é a sensação? Como é? 
Às vezes é como se sua atenção se desviasse um instantinho. Então, sobressaltado, você percebe que o livro que estava na sua mão, a camisa vermelha de algodão xadrez com botões brancos, o jeans preto preferido e as meias marrons quase furadas, a sala, a chaleira prestes a apitar na cozinha: tudo isso sumiu. Você está em pé, pelado, dentro de uma vala, com água gelada até os tornozelos, numa estrada de terra não identificada. Você espera um minuto para ver se talvez vai voltar direto para seu livro, seu apartamento et cetera. Você passa uns cinco minutos xingando, tremendo de frio e torcendo para desaparecer.

Às vezes você tem a sensação de ter se levantado depressa demais, ainda que esteja deitado na cama meio dormindo. Você ouve o sangue correndo na cabeça, tem sensações de queda vertiginosas. Suas mãos e seus pés formigam e logo já não estão mais ali. Você se perdeu de novo.

Apesar de ter um emprego estável (até onde possa ser possível) como bibliotecário e ser uma boa pessoa, Henry, como é de se imaginar, não leva uma vida fácil: tem uma relação tumultuada com seu pai e exagera, constantemente, no uso de drogas e álcool. Isso tudo muda quando, enfim, conhece Clare. O relacionamento dos dois tem uma influência positiva em Henry, que começa a amadurecer e transformar-se, aos poucos, no homem que irá visitar/visitava Clare no campo. 

Assim como em qualquer casamento, a relação dos dois tem períodos complicados, dificultados ainda mais pela condição de Henry. Mesmo sabendo como seria sua vida, Clare sente-se, constantemente, solitária e preocupada. Henry some de repente, passa dias fora e, dependendo do período para onde foi, nunca se sabe as condições em que ele retornará. 

CLARE: é difícil ficar para trás. Espero Henry, sem saber dele, me perguntando se está bem. É difícil ser quem fica.
(...) Há muito tempo, os homens iam para o mar, enquanto as mulheres ficavam na praia, esperando e procurando o barquinho no horizonte. Agora espero Henry. Ele some sem querer, sem avisar. Espero. Tenho a sensação de que cada minuto de espera é um ano, uma eternidade. Cada minuto é lento e transparente como vidro. A cada minuto que passa, vejo uma fila de infinitos minutos, à espera. Por que ele foi aonde não posso ir atrás?

E, ao mesmo tempo, Henry sofre por deixá-la nessa situação.

HENRY: (...) E Clare, sempre Clare. Clare de manhã, sonolenta e de cara amassada. (...) Clare lendo, com o cabelo solto sobre o encosto da cadeira, passando hidratante nas mãos vermelhas e rachadas antes de dormir. A voz baixa de Clare está em meu ouvido com frequência.
Odeio estar onde ela não está, quando não está. No entanto, vivo partindo, e ela não pode vir atrás.

Gostei bastante do livro. Apesar de ser a obra de estreia da americana Audrey Niffenegger, ela soube conduzir extremamente bem a história. Com uma narrativa em primeira pessoa, a história é intercalada entre os pensamentos de Clare e Henry, tornando-se, assim, muito mais profundo o envolvimento do leitor com ambos os protagonistas. É um livro relativamente denso, exigindo do leitor sua máxima atenção (os detalhes são muito importantes nessa narrativa) – a história prende e emociona até o fim. E quando acaba, vem aquele conhecido desejo de quero mais. 

Confesso já tê-lo tentado ler, há alguns anos, e desistido logo no início. Dessa vez, me passou a mesma sensação de cansaço nas primeiras páginas. Entretanto, acabei insistindo e me apaixonando pelo livro, tornando-se um dos meus favoritos. Então, se você não gostar do início, dê uma chance; eu tenho certeza que não vai se arrepender.  



Caso você esteja achando a história levemente familiar, o livro teve os direitos comprados e uma adaptação foi feita, em 2009: o filme “Te Amarei Para Sempre”. Confira o trailer abaixo.



Estrelado por Rachel McAdams e Eric Bana, o longa foi, salvo algumas exceções, bastante fiel ao livro. Assistam, independente do livro. O filme é muito bom.